Minha atual pesquisa explora as noções de manejo e abundância como uma expressão daquilo que chamei alhures de “criatividade xinguana” (Horta, 2017), através da continuidade de uma etnografia realizada em uma aldeia familiar do povo Ikpeng, com foco em três contextos de contato com a alteridade: a aldeia, a cidade e a floresta. O objetivo é realizar uma análise transversal destes três campos onde a filosofia da abundância orienta a produção ativa de agenciamentos de corpos humanos e não humanos, e de palavras, nomes e conceitos, com efeito de produção de diversidade. Dialogando com a questão da recusa do Um (Clastres, [1980] 2004), contrapondo-se a práticas confiscatórias (Villela & Vieira, 2020) e afirmando a possibilidade criativa da dupla afirmação ontológica através do manejo de corpos e palavras, esse projeto explora a noção de abundância como filosofia que anima o processo de criação semântica dos mundos relacionais ameríndios e o manejo de corpos e palavras como ação por excelência de sua produção reiterada.