As mulheres Yarang nas florestas do Xingu
22 - 23 October 2024 - 08:00
Campus Condorcet, Paris

A pesquisadora associada ao Projeto Temático, Amanda Horta (UFSCar), fará uma palestra intitulada "As mulheres Yarang nas florestas do Xingu" no Colloque International Corps-territoires, genre et politiques en Amérique Latine et les Caraïbes: Faire-mondes post-extractivistes, Campus Condorcet, Paris. 

Confira o resumo da apresentação: 

 

O trabalho apresentará o Movimento de Mulheres Yarang, um coletivo de mulheres do povo Ikpeng dedicado a coleta e beneficiamento de sementes florestais e sua comercialização através da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX). A ARSX é uma iniciativa de produção comunitária de sementes florestais, que conecta coletores de comunidades indígenas, camponesas e urbanas, para uso em projetos de reflorestamento. O Movimento de Mulheres nasceu em 2009 no Território Indígena do Xingu e se autonomeou Yarang: um tipo de formiga que anda em coletivo e colhe sementes caídas na mata. Nessa comunicação, abordarei o que é, desde a perspectiva Ikpeng, um Movimento de Mulheres. Para tal, conecto as considerações de Menget (1977) sobre o conceito de “grupo” Ikpeng; as análises de Rodgers (2002) sobre a origem do nome “ikpeng”; e os momentos da vida social em que as Yarang se apresentam como grupo. As expedições coletivas de coleta de sementes são momentos chave, pois materializam as mulheres Yarang como um sujeito magnificado, construindo seus corpos em extensão e transformando sua interação com a floresta e o território. Em grandes grupos, as mulheres Yarang entram na mata fechada, atividade que nunca fazem sozinhas. São os homens quem entram fundo na floresta, caçando animais e “caçando sementes”, como dizem. As atividades de coleta e de caça têm a ver, portanto, com a performance de gênero e implicam formas distintas de relação com o cosmos. A clara divisão entre os gêneros não elimina discordâncias. O dinheiro é uma delas. Perguntadas sobre o que compram com o “dinheirinho da semente”, muitas mulheres dizem que compram “calcinha”. Se dentro de casa os homens parecem coniventes com as decisões de suas esposas sobre como gastar o dinheiro, nas reuniões públicas afirmam que “as mulheres não sabem gastar”, que elas deveriam juntar dinheiro e comprar coisas grandes: trator, balsa, motor. Mas o que interessa às Yarang, é usar o “dinheirinho da semente” para comprar calcinhas, baldes, roupas, itens menores, ligados às necessidades do dia a dia, igualmente relevantes. Costurando as noções de grupo, território e gênero, essa apresentação mostra ao público um projeto que, apropriado pelas mulheres Yarang, se torna um dispositivo de produção de território, memórias e de transmissão de conhecimento entre o povo Ikpeng. Em um momento político que a luta pelos direitos territoriais das populações indígenas e tradicionais tem perdido batalhas para os grandes empreendimentos, este trabalho revela que muito mais que criar alternativas econômicas, a ARSX opera uma máquina através da qual os indígenas das aldeias Ikpeng podem produzir a si mesmos enquanto indígenas, através de relações coletivas e íntimas com o território. A atividade da coleta e do beneficiamento das sementes florestais atravessa os gêneros e as gerações e mobiliza a todos num processo que, mais que produzir sementes, produz pessoas.

O evento ocorrerá nos dias 22 e 23 de outubro. 

Colloque International Corps-territoires, genre et politiques en Amérique Latine et les Caraïbes: Faire-mondes post-extractivistes