Minha pesquisa atual consiste em um estudo sobre os modos de criar e de fazer característicos das religiões de matriz africana no Brasil, buscando explorar uma teoria etnográfica da criação a partir da relação entre pessoas, coisas e deuses no candomblé. Para isso, acompanho o processo criativo de dois ferreiros de orixá, artífices ligados ao candomblé que se dedicam a produção das chamadas “ferramentas de santo”, artefatos que, após serem feitos nas oficinas e “preparados” nos terreiros, tornam-se a própria expressão material dos deuses na terra. A pesquisa acompanha os múltiplos processos de individuação desses artefatos e seus efeitos cosmológicos e políticos, seja através das preparações rituais ocorridas nos terreiros de candomblé, seja por meio das apropriações desses artefatos em museus e galerias de arte, onde eles passam a integrar uma rede específica de arte afro-brasileira. Com isso, pretendo demonstrar como, do ponto de vista dessas religiões, técnica e ontologia (ou, se quisermos, técnica e vida) não podem ser pensados separadamente: fazer um Orixá é compor com as forças e os materiais que o habitam, e cada gesto técnico, ritual ou político, é um modo de compor energias (que, no candomblé, são chamadas de axé), fazendo com que os materiais, os deuses e as pessoas fiquem cada vez mais vivos.
Lucas de Mendonça Marques
paralucas@ymail.com
Afiliação
USP
Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ e pesquisador do Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi). Realizou trabalho de campo em Salvador e no Pacífico Sul colombiano, sobre religiões de matriz africana, objetos e técnicas.
Pesquisa atual