
A pesquisa em curso propõe uma reflexão etnográfica acerca do processo de reintegração de posse [hoje suspenso] que ameaça o Acampamento Capão das Antas — ocupação de luta por Reforma Agrária em área de proteção ambiental localizada na cidade de São Carlos, São Paulo, Brasil — e sua progressiva transformação no processo de criação de um assentamento que atenda às demandas da expertise ambiental envolvida para que configure uma Vila Agroecológica. O objetivo é compreender as costuras feitas por acampadas/os, políticos, procuradores, advogados, estudantes e professores na construção de um novo comum necessariamente atrelado ao processo de expulsão: caso conquistem a terra, apenas cerca de 80 das mais de 200 famílias presentes no acampamento serão selecionadas para o assentamento. Destaco o emaranhamento entre aparentes pares de oposição, como expulsar e assentar, num contexto de recriação de casa e relações com a terra afetadas diretamente pelo gerenciamento estatal de transformação da vida em categoria jurídica. Ainda que a disputa legal em questão seja marcada por fortes dissimetrias, ela não ocorre de maneira unilateral: para estar na luta, as pessoas do Capão das Antas ocupam simultaneamente a terra e a língua maior do Direito.