A pesquisadora do Métis Camila Galan de Paula (USP) defenderá sua tese de doutorado intitulada "Passados e presenças: 'índios', tempo e história em Coronel José Dias, Piauí" no dia 12 de dezembro, às 14h, na sala 1039, Edifício de Filosofia e Ciências Sociais da FFLCH/USP.
Confira o resumo da tese e as informações da defesa:
Esta pesquisa iniciou-se de uma constatação: na região sudeste do Piauí, não existem presentemente movimentos de reivindicação étnica de povos indígenas; no entanto, algumas famílias reconhecem suas ascendências indígenas. A partir de uma pesquisa etnográfica no município de Coronel José Dias, esta tese busca compreender como essas famílias se relacionam com suas ascendências, destacando tanto a obliteração dessas relações quanto a presença da indianidade nos corpos. O percurso da pesquisa levou a uma abordagem oblíqua da questão inicial de investigação. Realizando uma antropologia da história, a tese investiga uma questão mais ampla: como as histórias, por meio de seus enredos e efeitos performativos, criam pertencimento e exclusão? Este trabalho, assim, examina processos de focalização e eclipsamento dentro das narrativas históricas, considerando quem conta (n)a história do município e quais grupos se formam a partir dessas histórias. As duas questões centrais da pesquisa – (1) como as famílias se relacionam com suas ascendências indígenas; (2) quem conta (n)a história do município – integram uma indagação mais ampla sobre os processos de diferenciação e pertencimento nas e através das narrativas históricas. A análise dos processos de historicização, ou seja, as formas de articular passado, presente e futuro, contribui para responder tanto à questão ampla quanto às indagações mais específicas. Isso revela como certos modos de concatenar tempos relegam agentes ao passado, como os ‘índios’, retratados como parte de um mundo externo e anterior à formação de Coronel José Dias e das famílias que ali residem. Por outro lado, a história pode ser mostrada (em vez de contada), trazendo elementos do passado à presença. Os corpos das pessoas com antepassados indígenas, desse modo, muitas vezes são apontados como sinal da relação do presente de uma família com seu passado. Em suma, esta pesquisa elabora uma etnografia que explora os processos e as semânticas de pertencimento e exclusão em um município. Assim, contribui para uma antropologia da história e aprofunda a compreensão das formas contemporâneas de relação com as ascendências indígenas.
Orientadora: Ana Claudia Marques (USP). Banca. Titulares: Jorge Luan Rodrigues Teixeira (UVA), Emília Pietrafesa de Godoi (UNICAMP), Marta Rosa Amoroso (FFLCH - USP). Suplentes: Ana Carneiro Cerqueira (UFSB), Daniel De Lucca Reis Costa (UNILAB), Fernanda Arêas Peixoto (FFLCH - USP).