Entre 7 e 9 de agosto de 2024 foi realizado o I Simpósio Internacional Métis, organizado no interior do Projeto Temático Fapesp “Artes e semânticas da criação e da memória” (Processo nº 2020/07886-8). Centenas de pessoas participaram do evento, que aconteceu no Prédio da Ciências Sociais, FFLCH - USP, com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube.
Com a intenção de aproximar diferentes subcampos e tradições da antropologia, bem como acolher pessoas de outras áreas do saber, o I SIM – sigla positivada e afirmativa, que sintetiza a proposta do evento – foi concebido a partir dos quatro eixos principais que compõem o projeto temático (artes, ecologia, parentesco e política), distribuídos e combinados em duas Conferências e quatro Encontros Transversais (ET).
De acordo com Dé Leonel Soares, pós-doutorando do Métis e um dos organizadores do evento, “os ETs foram organizados, então, com a expectativa não só de cruzar os cinco eixos, mas também de fazê-lo a partir de diversas áreas de conhecimento.” Ele continuou:
Surgiu assim, um evento preocupado com a transversalidade e a troca entre áreas como a antropologia, a arqueologia, as artes, às ciências biológicas, dentre outras possibilidades. Nosso objetivo era criar um evento diverso, em que diferentes áreas do saber pudessem dialogar, produzindo novas encruzilhadas a partir das noções de memória e criação, temas centrais ao nosso projeto temático.
Dessa forma, o I SIM teve início com as boas-vindas dadas pelas/os coordenadoras/es dos eixos Ana Claudia Marques (USP), Fernanda Arêas Peixoto (USP), Jorge Mattar Villela (UFSCar), Stelio Marras (USP) e Uirá Felippe Garcia (UNIFESP). A coordenadora geral do projeto, Fernanda, fez as honras formalmente com a fala intitulada “Métis - Linhas de um projeto coletivo”. Em seguida, Natália Quiceno Toro (Universidad de Antioquia, Colômbia) ministrou a Conferência de Abertura “Bordar el Atrato. Vidas ribereñas posibles en el Pacífico Colombiano”. A tarde de quarta-feira, 7, sediou o ET I – Arte e Antropoceno, com o debate moderado por Uirá Garcia (UNIFESP), que tratou de criações artísticas no contexto de crise ecológica planetária, a partir dos trabalhos de Júlia Goyatá (UFMA), “O jardim de Guyodo ou a arte dos escombros no Haiti contemporâneo”; Ruy Cezar Campos (UERJ), “Forças da terra, infraestruturas e práticas artísticas”; e Guto Nóbrega (UFRJ), “Outras inteligências”.
No dia 8, quinta, ocorreram dois ETs. O ET II - Gêneros da criação lidou com as formas de fazer política e parentes centradas no corpo, sob moderação de Ana Claudia Marques (USP), com as apresentações de Lux Ferreira Lima (Unicamp), “Em verdade, em verdade vos digo: transtornando regimes de visibilidade e representação”; Thaís Salves de Brito (UFRB), “Bembé do Mercado: costura e culinária como um ato de liberdade e política”; e Yara de Cássia Alves (UEMG), “A artesania do ‘assuntar’: conhecimento e memória na criação dos filhos e do parentesco em comunidades quilombolas mineiras”. O ET III - Retomada, luta e memória abordou as insurgências em defesa da vida diante de situações de conflito, conforme a moderação de Jorge Villela (UFSCar), por meio das falas de Ana Carneiro (UFSB), “Um “nós” perturbando fronteiras: entrelaces criativos e agenciamentos políticos da cozinha na luta em defesa da Resex Marinha de Canavieiras-BA”; Felipe Tuxá (UFBA), “São as autodemarcações recusa? Imaginando o futuro junto à comunidade Tuxá do Rio São Francisco”; e Rosinalda Correia (UFTO), “Os quilombos na diáspora e o papel da Arqueologia: lutas históricas e desafios, uma escrita na primeira pessoa”.
Na manhã de sexta-feira, 9, Stelio Marras (USP) moderou o ET IV – Política, técnica e criação, deparando-se com modos de fazer e criar ao lado de Natacha Simei Leal (UNIVASF), com o trabalho intitulado “Criação, água e parentesco: trajetórias e genealogias da família Negreiros no povoado de Lagoa de Fora, São Raimundo Nonato-PI”; Gabriel Coutinho Barbosa (UFSC), “Escolhas e inovações (cosmo)técnicas na pesca artesanal em Santa Catarina e Rio Grande do Norte: sobre a propulsão de jangadas e canoas”; e Felipe Sussekind (PUC/ RJ), “Rio dos Macacos: percursos históricos e socioambientais no Horto Florestal”. O evento foi concluído no período da tarde, com a Conferência de Encerramento conduzida por Luísa Reis de Castro (Universidade do Sul da Califórnia), intitulada “Uma (futura) ecologia da história: mosquitos modificados no Brasil e além”.
O I SIM demonstrou o caráter inovador do Métis, sugerindo colaborações frutíferas a partir do encontro de saberes engajados e preocupados com os mundos em que se vive. Como resultado, o projeto Artes e Semânticas da Criação e da Memória alcançou um importante objetivo: a articulação entre etnografias e análises teóricas por meio de cruzamentos, conexões, misturas e metamorfoses que ultrapassaram os eixos do Métis, mas também das próprias fronteiras convencionais da produção de conhecimentos em antropologia.
Nesse sentido, o espírito colaborativo para criação do Simpósio deve ser reverenciado, numa rede que é tecida com o trabalho de pesquisa, extensão, divulgação científica, mas também com amizades, afetos e parcerias. O sucesso do evento se deu graças às comissões organizadora e científica, compostas por 14 pesquisadoras/es do Métis: Ana Claudia Duarte Rocha Marques, Amanda Horta, Beatriz Judice Magalhães, Dé Leonel Soares, Fernanda Arêas Peixoto, Gabriel Guarino de Almeida, Joaquim Pereira de Almeida Neto, Jorge Mattar Villela, Júlia Aricó Savarego, Lucas Marques, Rafael do Nascimento Cesar, Renan Martins Pereira Stelio Marras e Uirá Felippe Garcia.
Em vista disso, ressaltamos os aspectos da produção de um evento, muitas vezes, obscurecidos pelo ato de sua realização. Agradecemos o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e o apoio técnico e infraestrutural da Universidade de São Paulo (USP), que possibilitaram a execução do Simpósio. Além disso, não é dispensável agradecer novamente as e os convidadas/os e participantes que deram corpo ao I SIM.
Por fim, compartilhamos o relato de Gabriel Guarino, pós-doutorando da USP e membro da Comissão Organizadora, com algumas impressões acerca do I SIM:
Durante os dias de evento, atuei como pessoa responsável por gerenciar os debates e perguntas com o público – função que colegas generosamente nomearam como “mestre de cerimônias”. Brincando com tal título, poderia dizer que a maestria reside não em mim, mas na cerimônia em si: três dias de evento, mantendo uma média de quarenta pessoas presencialmente assistindo e mais de cem espectadores nas transmissões on-line. Contabilizando, tivemos quatro ET’s - Eixos transversais - cada um com quatro pessoas apresentando pesquisas, para além da pessoa que mediava a conversa. Com as conferências de abertura e encerramento, são ao menos quatorze falas riquíssimas, para além das intervenções do público. Seria, assim, uma tarefa difícil tentar relatar cada um dos dias, e certamente meu relato cometeria alguma injustiça ao esquecer ou lembrar de alguém.
Gostaria, ainda assim, de retomar um conceito mobilizado pela professora Luísa Reis de Castro, em sua brilhante conferência de encerramento do I SIM. Ela nos falava do aftermath e sua dificuldade de uma tradução que desse conta dos vínculos temporais de processos complexos, e da própria capacidade de expressar os eventos imprevisíveis que ocorrem após um acontecimento. Como brinquei na ocasião de sua fala, vivemos agora imersos em novos pensamentos e conexões que o primeiro Simpósio Internacional do Métis tem nos levados, como frutos imprevisíveis de conversas muito esperadas – vivemos o aftermath do SIM que, diferente do problemas de nosso tempo presente, só tem efeitos estimulantes, alegres e multiplicadores de nossas pesquisas.
Diante dos efeitos do I SIM, seu aftermath, animamos nossos corpos e mentes para ingressarmos no terceiro ano de execução do Projeto Temático Artes e Semânticas da Criação e da Memória.
Para seguir com as inspirações desse encontro, lembramos que as conferências e os ETs estão disponíveis clicando nos links ou acessando o Canal da FFLCH no Youtube.