Neste livro, resultado de um ciclo de encontros e debates entre pesquisadores do Nuap e colegas convidados, está a memória de caminhos de pesquisa bem diversos, trilhados ao encontro do tema da “memória”. Porém, não se trata apenas desta, mas de sua associação à “política”. Ao juntar esses caminhos, descobrem-se aspectos pouco evidentes, mas nem por isso menos centrais, das maneiras pelas quais coletividades se articulam em situações de perigo, perda e disputa desigual; registram-se maneiras pelas quais as marcas deixadas por perigos, perdas e disputas passadas são postas em evidência de modo a, por sua vez, marcar coletividades emergentes; descobrem-se formas de tecer criativamente passados e futuros pessoais e coletivos. E tudo isso nos dá a possibilidade de perceber lutas políticas em engendramento, articulando suas possibilidades e impossibilidades bem ali, no olhar rápido do pescador no meio do mar, no causo de família contado pelos velhos quilombolas ou sertanejos ou vazanteiros e ouvido pelos novos, no documento guardado com (ou sem) cuidado, na sua descoberta bem depois e na emoção de descobri-lo, na agulha ágil atravessando o pano no rumo de proclamar nas palavras bordadas o acontecimento das ausências e sua dor inesquecível e irreparável.
A coletânea contém contribuições de diversas pesquisadoras do Métis: "Tecnologias da Memória das Pessoas Atingidas pela Barragem de Fundão em Mariana/Mg", de Gabriela de Paula Marcurio; "Comentários à seção Iv: artes e semânticas da criação e da memória", de Jorge Luiz Mattar Villela; "Lembrar de Não Esquecer: bordado como um artefato de memória", de Bianca Barbosa Chizzolini; e "Seguir a Vida e Sobreviver: formas de recontar o passado e
elaborar o futuro", de Jesser Rodolfo de Oliveira Ramos.